Relação comercial com a Rússia pode gerar tensões entre Brasil e EUA, alertam senadores
Indicação é que governo norte-americano deve aprovar uma lei que cria sanções automáticas para países que têm relação comercial com Moscou nos próximos 90 dias.

Tarifaço: senadores brasileiros falam com a imprensa durante visita aos EUA — Foto: Reprodução/GloboNews
Assista Aqui a Entrevista com a imprensa.
Senadores brasileiros que estiveram em Washington para estabelecer diálogo com o Congresso e o setor privado dos Estados Unidos alertaram, nesta quarta-feira (30), que a relação comercial do Brasil com a Rússia pode criar novas tensões com os norte-americanos. Segundo a comitiva, parlamentares dos EUA, tanto republicanos quanto democratas, sinalizaram a aprovação de uma lei que prevê sanções automáticas a países que mantêm negócios com a Rússia.
“Eles estão focados em encerrar a guerra na Ucrânia e acreditam que quem compra da Rússia financia a continuidade do conflito”, afirmou a senadora Tereza Cristina (PP-MS). A importação de combustíveis e fertilizantes russos pelo Brasil foi destacada como um ponto sensível nas discussões.
A comitiva informou que levará o tema ao governo brasileiro, enfatizando a percepção dos parlamentares americanos de que países que negociam com a Rússia contribuem para a intensificação do confronto entre Moscou e Kiev.
Trump anuncia sanções à Índia e pressiona países que negociam com a Rússia
Mais cedo, o presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou uma “multa” à Índia como penalidade por suas negociações com a Rússia, especialmente na compra de equipamentos militares e energia. Em uma publicação no Truth Social, Trump criticou as altas tarifas indianas e barreiras comerciais, afirmando que a Índia, assim como a China, continua adquirindo produtos russos apesar das pressões internacionais para isolar Moscou. “A Índia pagará uma tarifa de 25% adicional, além de uma multa, a partir de 1º de agosto”, declarou.
Comitiva brasileira busca diálogo, mas enfrenta desafios
O principal objetivo da comitiva brasileira era abrir canais de comunicação com parlamentares e empresas americanas afetadas pelas tarifas impostas por Trump. Apesar das dificuldades — apenas um republicano aceitou o convite para diálogo —, os senadores consideraram a missão bem-sucedida.
“Conseguimos dialogar com um número razoável de parlamentares e empresas, que nos apoiaram, pois também são prejudicadas por essas tarifas”, afirmou o senador Marcos Pontes (PL-SP).
Com a proximidade do dia 1º de agosto, quando entram em vigor tarifas de 50% sobre produtos brasileiros, o Brasil ainda não alcançou avanços significativos nas negociações. No entanto, o senador Carlos Viana (PSD-MG) destacou que o gesto de boa vontade da comitiva foi bem recebido, abrindo a possibilidade de isenção para setores como café e grãos, nos quais os EUA dependem da produção brasileira.
“Taxar esses setores seria um gol contra para os próprios americanos”, disse Viana. Ele também reforçou a necessidade de o Brasil oferecer mais do que pedidos de isenção, propondo uma retomada de parcerias estratégicas com os EUA, que, segundo ele, estão suspensas há pelo menos três anos.
Lula cobra diálogo, mas enfrenta resistência
Os senadores defenderam a participação ativa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas negociações e a continuidade do diálogo mesmo após o início das tarifas. Em entrevista ao jornal The New York Times nesta quarta-feira (30), Lula afirmou que tentou estabelecer contato com a Casa Branca, mas “ninguém quer conversar”.
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