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Brasília,01/08/2025

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Michelle Sousa

Amazônia em tempos de cinzas: romance expõe os horrores da ditadura militar

Em "Quando Caem as Cinzas", o médico e escritor Carlos Augusto Ferreira Galvão resgata a memória da repressão no Araguaia por meio de um romance que mistura lirismo, denúncia e resistência

Foto: Divulgação
 Amazônia em tempos de cinzas: romance expõe os horrores da ditadura militar

Num Brasilsufocado pela ditadura militar, um jovem médico se vê enredado em uma daspáginas mais violentas e silenciadas da história nacional. No romance QuandoCaem as Cinzas — Desventuras amazônicas na noite brasileiraCarlosAugusto Ferreira Galvão dá voz às cicatrizes deixadas pelarepressão armada no sul do Pará, região marcada pela guerrilha do Araguaia. Aobra mescla ficção e realidade em uma narrativa potente sobre tortura, corageme memória.

O protagonista éBenedito, recém-formado e idealista, que decide iniciar sua carreira médica emMarabá, sem imaginar que encontrará uma Amazônia incendiada por conflitospolíticos. Em meio às contradições de um país em guerra contra si mesmo, ele sedepara com o drama de civis desaparecidos, perseguições e mortes promovidaspelos órgãos de repressão. Na tentativa de permanecer ético e humano, o médicose envolve com a causa dos camponeses e guerrilheiros, acabando ele própriocomo alvo da violência do regime.

Vesti-me efiquei a esperar a tal segunda ordem numa cadeira da varanda, vendo a bolamarrom, e cada vez mais opaca, em que se tinha transformado o sol morrer semuma gota de beleza ou poesia (...) Ao longe, os dois soldados acendiam grandesfogueiras, e conseguia-se ver os cadáveres sendo jogados nelas para seremreduzidos a cinzas. Pensei comigo que estavam destruindo provas (...) Nestaconstatação, percebi a fragilidade da minha vida e não pude evitar opensamento: o que ainda estaria reservado para mim? (Quando Caem as Cinzas —Desventuras amazônicas na noite brasileira, p.162)

Com estrutura emprimeira pessoa e alternância de tempo narrativo, o livro constrói uma saga queoscila entre o trágico e o poético, misturando lembranças pessoais, elementoshistóricos e reflexões sobre o papel do indivíduo diante do autoritarismo.Benedito é mais do que um personagem: ele é símbolo de uma juventude que senegou a calar diante das injustiças. Ao lado dele, surgem figuras marcantes daresistência, como líderes rurais, militantes e cidadãos comuns, todos marcadospelas cinzas de um tempo sombrio.

“É muitopertinente para os jovens, pois a verdadeira história da ditadura iniciada em1964 não pode ser esquecida”, afirma o autor. Carlos faz de sua escrita umaferramenta de preservação da memória e de denúncia, numa literaturacomprometida com a verdade histórica.

Quando Caemas Cinzas é, sobretudo, um chamadoà lembrança. Em tempos de revisionismos e apagamentos, o romance ecoa como umgrito de alerta: para que não se esqueça, para que nunca mais aconteça.

 



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